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terça-feira, 22 de maio de 2007

O que é o Budismo Engajado?


Por Antonino Condorelli

Por Budismo Socialmente Engajado ou, simplesmente, Budismo Engajado entende-se o envolvimento ativo por parte dos praticantes budistas na sociedade e seus problemas, visando aliviar a dor dos outros, transformar as raízes que produzem injustiça e exploração e promover a paz, a igualdade, a solidariedade, os direitos humanos e a harmonia entre todos os seres.

A expressão Budismo Engajado, criada na década de 1960 por uma encarnação viva do Dharma, o mestre Zen vietnamita Thich Nhât Hanh, para referir-se ao trabalho dos movimentos budistas em prol da paz e os direitos humanos em meio à destruição e as atrocidades da guerra, hoje abrange um amplo leque de organizações, grupos e indivíduos que em muitos países do mundo dedicam-se a praticar os ensinamentos do Buda no coração da dor, com ações e projetos que visam aliviar o sofrimento das pessoas oprimidas por situações de miséria, exploração, privação da liberdade, violência física, psicológica ou sexual e outras formas de negação da dignidade humana, promovendo um novo modelo sociedade que se baseie na percepção da íntima interconexão de tudo o que existe.

A expressão é, na verdade, uma redundância. O Dharma, o caminho do amor e da compreensão traçado pelo Buda Siddharta Gautama há mais de 2.500 anos, é por sua natureza engajado, pois não pode existir longe e independentemente da vida das pessoas, não faz sentido fora do dia a dia e não se nega a enfrentar a dor, mas a encara de frente para transformá-la. Os ensinamentos budistas não são um sistema de crenças vindas de fora às quais aderir: são instrumentos práticos para libertar-se da dor, para cultivar a compaixão, o amor e a equanimidade e para chegar a uma compreensão profunda da realidade. Nascem da vivência e só adquirem valor dentro da experiência. Não são um conjunto de idéias em que acreditar: são uma forma de viver... Uma forma diferente da que estamos acostumados: viver o Dharma é estar em contato com o sofrimento que permeia a existência conscientes da beleza sempre presente em cada instante da vida, é viver sem descriminar, sem julgar, sem separar, reconhecendo a dignidade, a igualdade essencial e a estreita interdependência de todos os seres, o milagre representado por cada fenômeno do universo, porque absolutamente tudo possui a essência de Buda, a natureza da compreensão, o amor e a liberdade. Viver o Dharma não é outra coisa do que viver para aliviar o sofrimento e levar felicidade aos outros. Por isso, o Budismo não pode ser senão “engajado”.


Mas nos anos Sessenta, no Vietnã e outros países asiáticos foi necessário “devolver” ao Dharma esta sua natureza originária desafiando as estruturas e mentalidades patriarcais, engessadas e afastadas da sociedade que caracterizavam a maioria das instituições budistas. Neste processo de reforma e revitalização do Budismo, a partir do caráter intrinsecamente flexível e estritamente vinculado à vida real deste último, verificou-se uma natural confluência entre o Dharma do Buda e elementos contemporâneos que partilham de ideais e princípios análogos como o feminismo, o princípio gandhiano da não-violência ativa e a ecologia profunda.


Desde o coração da Ásia, nas últimas décadas o Budismo Engajado propagou-se pelo chamado “Primeiro Mundo” e hoje conta com uma ampla e articulada rede de entidades e movimentos empenhados em cultivar a paz e a compaixão e em propagar os direitos humanos, o respeito ao meio ambiente e a solidariedade pelo mundo afora. Muitas destas organizações integram o International Network of Engaged Buddhists (Rede Internacional de Budistas Engajados), com sede na Tailândia.


Entre os principais movimentos budistas engajados, destacam-se a Ordem do Interser (Tiep Hien), fundada em 1964 por Thich Nhât Hanh no Vietnã e presente hoje em muitos países, que tem seu núcleo central no Centro de Meditação de Plum Village
no Sul da França e está empenhada em atividades ao redor do mundo de resgate de refugiados, promoção do desenvolvimento sustentável, propagação da paz, a não-violência, os direitos humanos e o respeito ao meio ambiente; as atividades de Sua Santidade o XIV Dalai Lama, Prêmio Nobel da Paz em 1989, não apenas para a liberdade do povo tibetano, vítima da invasão chinesa, mas de propagação incansável dos princípios da não-violência e a compaixão como soluções para os graves conflitos da nossa época; as atividades da comunidade de Samdech Phra Maha Ghosananda, monje Theravada falecido em março de 2007, que foi apelidado “O Gandhi da Camboja” pelo seu trabalho em prol da paz, a justiça social e os direitos humanos no seu país natal; os trabalhos de Sulak Sivaraksa, intelectual e ativista tailandês de inspiração budista, fundador da Sathirakoses Nagapradeepa Foundation e várias outras organizações, que conta com uma trajetória de cerca de setenta anos de atividades em prol da justiça social, a paz, a democracia e o desenvolvimento sustentável. Muitos outros movimentos e organizações dedicam-se a praticar o Dharma como uma força de transformação social em países como Índia, Sri Lanka, Tailândia… e também Estados Unidos, Austrália e diversos países da Europa Ocidental.

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3 comentários:

Daterra disse...

muito obrigado por se dedicarem a um trabalho tão bonito.

Acabo de chegar de Plum Village, uma experiência maravilhosa.

Vivo em Portugal e adoro o trabalho do Thây. Assim, este é mais um dos locais onde poderei estar em contacto para aprender mais:)

Abraço no dharma

Antonio disse...

Parabens por estas ideias tao encantadoras!Quanto mais conheço o Dharma, mais sinto a necessidade de vive-lo com profundo fervor!Sim, muito bem!Buddhismo Engajado é total redundancia;pois que o proprio Buddha definiu que o engajamento começa na familia e estabeleceu claramente a conduta e depois passou para as inter-relaçoes e até consciencia politco-social.Dizendo que a comunidade deve se reunir para decidir questoes coletivas!Quero contato com todos os buddhistas do mundo:logusantonio_866@hotmail.com

ANA disse...

Lindo trabalho. Lindos textos. Lindas reflexões.
Assim como a natureza, é preciso cultivar e despertar tudo isso, para que não se perca na normose imperativa moderna (e infeliz)...