Quando da criação da ONU, em 1945, entre os temas da discussão, destacavam-se a paz, os direitos humanos e o desenvolvimento eqüitativo.
Durante os primeiros anos de existência da ONU, a questão ambiental ainda não se colocava como uma preocupação comum, da mesma maneira que era dada pouca atenção ao bem-estar ecológico. Não obstante, desde a Conferência de Estocolmo, sobre Entorno Humano em 1972, a segurança ecológica passou a ser a quarta preocupação principal das Nações Unidas.
A partir desse evento, identificam-se os seguintes marcos:
1987 - A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMAD), conhecida por Comissão Brundtland, recomendou a criação de uma nova carta ou declaração universal sobre a proteção ambiental e o desenvolvimento sustentável.
1992 - A Eco-92 iniciou o processo e chegou a um primeiro consenso sobre a "Declaração de Princípios do Rio". Formou-se uma secretaria internacional incumbida de dar prosseguimento ao projeto Carta da Terra.
1995 - Seminário Internacional sobre a Carta da Terra, realizado em Haia, na Holanda. Ali foram definidas as necessidades, os elementos principais e a forma de elaboração da Carta da Terra.
1996 - Inicia-se, com vários grupos, o processo de consulta, como parte da preparação para a Rio+5, que ocorreu no Rio de Janeiro, em 1997, cinco anos depois da Eco-92.
1997 – Durante a Rio+5 foi constituída uma Comissão da Carta da Terra. Naquela ocasião chegou-se ao texto da primeira minuta de referência, que baliza hoje as discussões em todo o mundo.
1998 – Realização em Cuiabá, Mato Grosso/Brasil, da primeira conferência regional, envolvendo os países da América Latina e Caribe e da América do Norte. Essa conferência abriu o processo das sistematizações continentais.
1. CONCEITO
Baseada em princípios e valores fundamentais, que nortearão pessoas e Estados no que se refere ao desenvolvimento sustentável, a Carta da Terra servirá como um código ético planetário.
Uma vez aprovada pelas Nações Unidas por volta de 2002, a Carta da Terra será o equivalente à Declaração Universal dos Direitos Humanos, no que concerne à sustentabilidade, à eqüidade e à justiça.
O projeto da Carta da Terra inspira-se em uma variedade de fontes, incluindo a ecologia e outras ciências contemporâneas, as tradições religiosas e as filosóficas do mundo, a literatura sobre ética global, o meio ambiente e o desenvolvimento, a experiência prática dos povos que vivem de maneira sustentada, além das declarações e dos tratados intergovemamentais e não-governamentais relevantes.
Deverá constituir-se em um documento vivo, apropriado pela sociedade planetária, e revisto periodicamente em amplas consultas globais.
Entre os valores que se afirmam na minuta de referência encontramos:
- Respeito à Terra e à sua existência.
- A proteção e a restauração da diversidade, da integridade e da beleza dos ecossistemas da Terra.
- A produção, o consumo e a reprodução sustentáveis.
- Respeito aos direitos humanos, incluindo o direito a um meio ambiente propício à dignidade e ao bem-estar dos humanos.
- A erradicação da pobreza.
- A paz e a solução não violenta dos conflitos.
- A distribuição eqüitativa dos recursos da Terra.
- A participação democrática nos processos de decisão.
- A igualdade de gênero.
- A responsabilidade e a transparência nos processos administrativos.
- A promoção e aplicação dos conhecimentos e tecnologias que facilitam o cuidado com a Terra.
- A educação universal para uma vida sustentada.
- Sentido da responsabilidade compartilhada, pelo bem-estar da comunidade da Terra e das gerações futuras.
Consensualmente, entende-se que a Carta deve ser:
- Uma declaração de princípios fundamentais com significado perdurável e que possa ser compartilhada amplamente pelos povos da todas as raças, culturas e religiões.
- Um documento relativamente breve e conciso, escrito com linguagem inspiradora.
- Ela deve ser clara e significativa.
- A articulação de uma visão que reflita valores universais.
- Uma chamada para a ação, que agregue novas dimensões significativas de valores às que já se encontram expressas em outros documentos relevantes.
- Uma Carta dos povos que sirva como um código universal de conduta para pessoas, para instituições e para Estados.
2. PROCESSO DE CONSULTA
O processo mundial de consulta busca resgatar esforços anteriores inconclusos, para definir uma Carta da Terra, chegando à versão final que será entregue à ONU.
Os processos de consulta nacionais estão unindo organizações e instituições governamentais e não-governamentais de diferentes setores que influem no desenvolvimento sustentado.
As consultas têm os seguintes objetivos:
- Fundamentar a Carta da Terra nos valores de culturas, de religiões, de setores e de grupos diversos da sociedade civil.
- Ampliar a conscientização e melhorar a compreensão dos assuntos relativos à esfera de preocupação da Carta da Terra.
- Dar oportunidade às pessoas de comprometerem-se pessoal e coletivamente com o desenvolvimento sustentado, abrangendo uma variedade de abordagens e perspectivas.
- Desenvolver uma ampla apropriação pública da Carta da Terra.
- Formar um movimento de afirmação ética mundial, que possibilite concretamente a vivência dos princípios e valores da Carta da Terra.
O processo da Carta da Terra está estruturado da seguinte forma:
Comissão Internacional, composta por 23 membros representando as regiões da África e Oriente Médio, América Latina e Caribe, América do Norte, Ásia e Pacífico, e Europa
Comitê Executivo Internacional, composto por 5 membros, sendo 1 de cada região, respectivamente: Amadou Toumani Touré (África), Mercedes Sosa (América Latina), Maurice Strong (América do Norte), Kamla Chowdhry (Ásia) e Mikhail Gorbachev (Europa)
Secretariado Internacional, com sede em San José, Costa Rica, no Conselho da Terra.
Equipe Internacional de Redação, sob a coordenação de Steven Rockefeller.
Equipe Internacional de Apoio, composta por organizações não-governamentais de abrangência mundial.
Comissões Executivas Continentais, compostas por representantes das Comissões Nacionais, em cada região.
Comissões Nacionais, compostas por organizações governamentais e não-governamentais em cada país.
Estruturas locais, criadas pelas Comissões Nacionais, a partir da realidade organizacional de cada país.
Conferências Temáticas, organizadas em nível local, nacional ou mundial para promover a consulta dentro de algum setor específico, ampliando a participação do maior número possível de pessoas na elaboração da Carta da Terra.
Veja:
Fonte: Instituto Paulo Freire
Para ler a Carta da Terra na íntegra, clique aqui.
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